Quando a Matemática Não Fecha, Quem Fica de Barriga Vazia São os Alunos
Quando se fala em licitação milionária, logo pensamos em números gordos e contratos de impacto. E realmente, o Pregão Eletrônico nº 046/2025, para fornecimento de gêneros alimentícios destinados à merenda escolar em Bom Jesus do Itabapoana, não decepcionou: R$ 7,65 milhões em registro de preços. Até aí, nada de anormal.
Mas a mágica começa quando olhamos para os “documentos comprobatórios” apresentados pela empresa Organizações de Cereais Fernandes e Filhos Ltda. A cena é digna de Black Friday:
- Arroz 5kg por R$ 10,99
- Óleo de soja a R$ 5,49
- Biscoito Maria por R$ 1,99
- Maços de cebolinha e salsinha a R$ 0,99
- Leite integral 1L por R$ 2,89
- Feijão carioca 1kg por R$ 4,99
- Café 500g por R$ 6,50
- Margarina 500g por R$ 3,99
- Carne Moda kg: R$ 16,39
Sim, leitor. Em plena 2025, onde qualquer ida ao mercado é um assalto autorizado pelo carrinho de compras, alguém encontrou um portal mágico onde os preços congelaram no passado.
O detalhe curioso é que o edital não deixa dúvidas: valores inexequíveis — abaixo de 50% do preço estimado pela Administração — devem ser questionados pelo pregoeiro. Mas, aparentemente, o bom senso foi tomar um café e esqueceu de voltar para a sessão.
E como se não bastasse, ao invés da exigida planilha de custos com encargos, tributos e logística, o que apareceu foram notinhas de consumidor (NFC-e) de mercado local, aquelas que a gente pega na padaria depois de comprar dois refrigerantes. Isso sem falar numa ata da Secretaria de Saúde anexada, com preços já fora dos padrões.
Essa prática tem até nome bonito no mundo das licitações: dumping. Traduzindo para o bomjesuense: a empresa joga os preços lá embaixo, vence a disputa e, depois, ou não consegue entregar o combinado, ou começa a pedir reajustes e aditivos. Resultado? A merenda dos alunos vai para o buraco e o bolso do contribuinte continua sangrando.
Ou seja, aquela promessa de “economia para os cofres públicos” pode virar, na prática, um prato vazio na escola e um prejuízo cheio na conta do município.
No fim, fica a lição: quando a esmola é demais, o santo desconfia. E quando o arroz de licitação aparece a R$ 10,99, o contribuinte deveria rezar dobrado.
👉 Pergunta que não quer calar: será que a merenda dos estudantes vai ser servida nesse “mercado das maravilhas” ou a fatura real vai estourar, como sempre, na mesa do povo?
🔴 Diante desse cenário, fica o apelo: Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado precisam olhar com lupa esse pregão milionário. Porque licitação com preços de “conto de fadas” tem tudo para acabar em pesadelo no prato das crianças.
Fonte: Portal da Transparência



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