Morre Preta Gil, cantora e empresária, aos 50 anos, vítima de câncer
A Voz Que Lutou Contra Todos os Padrões: Preta Gil Morre aos 50 Anos
A música brasileira perdeu neste domingo (20) uma de suas vozes mais marcantes: Preta Gil, cantora, empresária, apresentadora e símbolo de resistência e representatividade, morreu aos 50 anos após complicações em decorrência de um câncer. Ela enfrentava a doença desde janeiro de 2023, quando anunciou publicamente o diagnóstico. A informação foi confirmada por sua equipe.
Filha do ícone Gilberto Gil com Sandra Gadelha, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Sua chegada ao mundo veio dois anos após o retorno do pai do exílio em Londres, durante a ditadura militar no Brasil.
Preta foi uma artista de múltiplos talentos, mas acima de tudo uma mulher que fez da sua existência um ato político. Mulher preta, bissexual e fora dos padrões estéticos impostos pela sociedade, enfrentou o preconceito desde a infância e jamais se calou. Usou sua visibilidade e voz potente para combater o racismo, a gordofobia e a LGBTQIA+fobia. Era, como ela mesma dizia, “a Preta no mundinho da Tropicália”, e aos poucos descobriu que o mundo real exigiria ainda mais coragem.
Um dos episódios mais emblemáticos de sua história foi ainda na infância, quando o cartório se recusou inicialmente a registrar seu nome como “Preta”. Foi preciso que seu pai argumentasse, ao lado da avó materna, que nomes como “Branca”, “Clara” e “Rosa” eram comuns. A saída encontrada foi incluir o nome “Maria” para que o registro fosse aceito. Assim nasceu Preta Maria — nome que carrega força, ancestralidade e resistência.
Preta teve uma infância entre Rio de Janeiro e Salvador, dividida após a separação dos pais. Era a quarta dos sete filhos de Gilberto Gil e mantinha relação próxima com sua madrasta Flora Gil, a quem considerava uma segunda mãe. Irmã de Pedro Gil (músico falecido em um acidente), Maria Gil e dos meio-irmãos Nara, Marília, Bem, Bela e José Gil, Preta também era prima de Patrícia Pillar e Luiza Possi.
Mãe de Francisco Gil, o “Fran”, integrante do trio Gilsons, Preta viu na maternidade uma de suas maiores alegrias e legados. Ela também cultivava com orgulho sua linhagem familiar de artistas, mas sempre lutou para construir seu próprio nome.
Autora da autobiografia Os Primeiros 50 (Globo Livros), Preta revisitou sua trajetória, revelando experiências íntimas, como sua primeira paixão por uma mulher, aos 15 anos, e o episódio em que foi expulsa do tradicional Colégio Andrews por protestar contra uma fala homofóbica de uma professora. Ela sempre teve espírito combativo — e nunca fugiu da luta.
Durante sua carreira, Preta lançou discos, apresentou programas, criou seu próprio bloco de carnaval e foi figura constante nos palcos, nas telas e nas pautas sociais mais urgentes. Foi uma artista que incomodou, provocou e fez pensar. Quebrou padrões com sua alegria irreverente, sua autenticidade e sua coragem de ser quem era.
A perda de Preta Gil é, sem dúvida, um vazio na cultura brasileira. Mas sua voz, seu legado e sua luta permanecem vivos na memória de todos que se reconheceram em suas palavras, em sua arte e em sua existência.
Fonte: UOL
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